quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Dor e medo na cidade de Campo Belo do Sul

Dor e medo na cidade   de Campo Belo do Sul
Campo Belo do Sul, 15/02/2013, Correio Lageano, por Núbia Garcia


O assassinato da aposentada Seraselia Neis, de 74 anos, e de sua filha, Marlene Catarina Pletsch, de 52 anos, chocou o município. Este foi o segundo registro de homicídio duplo na cidade, num período de menos de seis meses.



As bandeiras a meio mastro e uma fita preta em frente à prefeitura de Campo Belo do Sul, na manhã de ontem, denunciavam o clima de angústia e tristeza que tomou conta do município. O prefeito, Edilson José de Souza, decretou luto oficial de três dias, por causa do assassinato de Seraselia Neis, de 74 anos, e de sua filha, Marlene Catarina Pletsch, de 52 anos. O duplo homicídio aconteceu no final da tarde de quarta-feira (13) e a polícia trabalha com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte).



Consternada, a população também demonstra estar com medo. Isto porque é o segundo assassinato duplo, com suspeita de latrocínio, que ocorre na cidade. O primeiro caso foi registrado no mês de setembro e vitimou o casal Jaime José Ferreira de Morais e Terezinha Ribeiro de Morais, ambos com 54 anos. Eles eram moradores da  localidade Mato Queimado. Inicialmente, a polícia descarta qualquer relação entre os dois casos.



Seraselia e Marlene são sogra e esposa, respectivamente, do atual secretário de Agricultura e secretário interino de Obras, Edemar Pletsch. A família morava há aproximadamente um ano na Estrada Geral  de Morro do Chapéu, distante cerca de quatro quilômetros do Centro do município. Segundo informações de amigos da família, eles pretendiam voltar a morar na cidade dentro de um mês.



Os dois assassinatos duplos aconteceram no interior, o que chocou e assustou a população deste pacato município, que tem pouco mais de 7.400 habitantes. O agricultor Iraci Varela de Oliveira, mora na localidade de Morro Agudo, distante 15 quilômetros do Centro. Ele afirma estar amedrontado. “Dá muito medo ver estas coisas acontecerem. Quando chega um carro estranho perto de casa, a gente fica apavorado”, diz.



José Osni Ribeiro Damasceno, agricultor e vizinho de Iraci, cobra justiça e segurança. “Não tem como não sentir medo, ainda mais porque não tem policiamento no interior”, desabafa.



O aposentado Paulino Osmar Ribeiro mora na parte central da cidade. Para ele, o pavor sentido nas comunidades de interior é o mesmo de quem está no Centro. “Tô chocado com isso, estamos num beco sem saída. Hoje, quem trabalha, tem até medo de sair de casa e deixar a família sozinha”, completa.



Vítimas eram queridas pela comunidade



Mulheres de bem, alegres e ativas na comunidade. É assim que amigos e familiares descrevem Seraselia e Marlene. Mãe de cinco mulheres e avó de 12 netos, Seraselina morava com a filha Marlene desde quando separou-se do pai das filhas, Nercio Pereira da Silva.



Amigos da família garantem que a aposentada era muito dedicada e não media esforços para receber bem as visitas que chegavam à sua casa. “Ela era uma senhorinha que encantava. Ela recebia todas as pessoas muito bem e com um carinho que só ela tinha”, afirma Gerusa Pucci, amiga da família.



Maria Arlete da Silva, filha de Seraselia, conta que a irmã Marlene fazia parte de diversas entidades, dentre elas a Associação Sociocultural das Mulheres Cavalarianas, Núcleo Feminino da Copercampos e Casa Catarina. “Elas eram ótimas pessoas, sempre preocupadas com os outros. Não mereciam o que aconteceu”, desabafa a filha.



Amigos da família contam que Marlene havia contatado uma colega com quem faz artesanato, por volta das 15h15min de quarta-feira (13), avisando que em alguns minutos chegaria ao Centro da cidade para trabalharem. A referida colega teria tentado ligar novamente para Marlene aproximadamente 15 minutos depois, mas já não conseguiu mais falar com ela.



População está amedrontada


O auxiliar de serviços gerais Joel Campos mora no Centro de Campo Belo do Sul e, assim como muitos moradores, afirma estar assustado com a onda de violência.


Correio Lageano: Como o senhor vê os acontecimentos como este?

Joel Campos: Me sinto bastante triste e frágil, porque tem acontecido uns casos de violência fora do normal para o tamanho da nossa cidade.



CL: E o senhor sente medo?

Joel Campos: Sim. Observa isso: enquanto o cidadão de bem tá trabalhando, os bandidos tão aprontando à plena luz do dia. Fico inseguro porque tenho família e fico com medo de deixar eles sozinhos em casa.



O último adeus das Mulheres Cavalarianas



Com os chapéus sobre o peito, já adornado com um laço preto, as mulheres associadas à Associação Sociocultural Mulheres Cavalarianas, estiveram presentes ontem, no salão paroquial da igreja, junto a amigos e familiares, para dar o último adeus a um de seus membros mais atuantes, a segunda tesoureira Marlene, que foi velada ao lado da mãe, Seraselia.



“Vamos homenageá-la através do que ela mais gostava de fazer, cultivar o tradicionalismo”, disse a presidente da Associação, Lausina Furtado. Segundo ela, a entidade vai promover, durante a missa de sétimo dia, uma caminhada pedindo segurança e justiça.



Família é natural do Rio Grande do Sul



O adesivo colado na janela da casa onde ocorreu o brutal assassinato, com os dizeres “Eu Amo Campo Belo do Sul”, dá uma ideia do carinho que a família de gaúchos tem pelo município que os acolheu. Naturais da cidade de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, Seraselia, as filhas Marlene e Nádia, o genro Edemar, além dos netos Gil Augusto Pletsch e Giliane Pletsch, moram há cerca de 20 anos na cidade serrana de Santa Catarina.



Nos últimos meses, a aprovação de Gil para trabalhar em uma empresa de tecnologia da informação em Guiné Equatorial, no continente Africano, encheu a família de orgulho. O rapaz se mudou há cerca de seis meses e deveria visitar a família em abril. Ao saber do acontecido, ele veio para o Brasil. Segundo amigos da família, Gil deve chegar hoje a Santa Catarina.



Polícia suspeita de latrocínio


O laudo divulgado ontem pelo Instituto Médico Legal (IML) de Lages, apontou que as mortes aconteceram por volta das 17h30min. As vítimas foram encontradas minutos depois pelo esposo de Marlene, Edemar Pletsch, na área de serviço da casa onde os três residiam. Ele tinha acabado de voltar de uma reunião com o prefeito Edilson José de Souza.



Segundo informações repassadas pelo IML ao Portal CL Mais, a perícia constatou que Marlene e Seraselia morreram em decorrência de traumatismo cranioencefálico, provocado por disparos de arma de fogo. Não foram divulgados o tipo nem o calibre das armas.



De acordo com a delegada de Polícia Civil do município, Camila Rizzo Andrioli, a polícia trabalha com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte) e já tem suspeitos. Ela não divulgou maiores informações. Inicialmente, ela descarta a ligação deste caso com o dos homicídios ocorridos em setembro do ano passado.



O prefeito Edilson José de Souza, que também é presidente da Amures, declarou que a falta de segurança e o crescimento da violência é um problema recorrente em toda a região, que precisa ser debatido pelas autoridades. “Este é um problema muito amplo e complexo, vai além de debater números da violência. A sociedade perdeu sua referência em diversas estruturas, mas especialmente na família, o que deixa tudo bagunçado”, analisa.



Investigações preliminares já apontaram suspeitos



A delegada de Polícia Civil Camila Rizzo Andrioli é responsável pelas investigações.

Correio Lageano: Quando a polícia tomou conhecimento do crime?

Camila Rizzo Andrioli: Foi por volta das 18 horas de quarta-feira. Assim que soubemos, acionamos a perícia técnica e o Instituto Geral de Perícias (IGP) de Lages já veio e fez todo o levantamento necessário. As investigações começaram imediatamente.



CL: Qual a linha de investigação que está sendo seguida?

Camila Rizzo Andrioli:Estamos tratando com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de mote) porque foram levados alguns objetos, como um relógio de bolso, uma quantia em dinheiro que não foi especificada e um revólver calibre 38.



CL: Já existem suspeitos?

Camila Rizzo Andrioli:Sim, mas em princípio não vamos passar muitas informações, pois podem prejudicar o andamento das investigações.



Não é o primeiro duplo assassinato que choca Campo Belo do Sul


Em setembro do ano passado o casal de idosos José Ferreira de Morais e Terezinha Ribeiro de Morais, os dois com 54 anos, foi encontrado assassinado dentro de casa, na localidade Mato Queimado. O crime foi encomendado e cometido com ajuda de um sobrinho das vítimas, que roubaram objetos da residência. 

Fotos:Núbia Garcia

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