sábado, 11 de maio de 2013

A violência passa, mas as marcas ficam


A violência passa, mas as marcas ficam

Lages, 11 e 12/05/2013, Correio Lageano



Julia quer servir de exemplo para outras vítimas e demonstrando força, aceitou ser fotografada



A violência contra mulheres em Lages apresenta números assustadores. Com índice de 14,9 mortes por cada 100 mil mulheres, a cidade ocupa o 17º lugar no ranking dos municípios com mais casos de homicídios femininos. Júlia Grasiele Velasque, de 21 anos, mãe de duas crianças, uma de um e outra de cinco anos, por pouco não fez parte também desse triste registro.



Estudante do curso de cabeleireira no Caic Irmã Dulce, no Bairro Guarujá, Júlia sonha em abrir um salão e trabalhar em casa. Os planos, porém, foram adiados depois do dia 2 deste mês, quando foi agredida a golpes de machadinha por seu marido, Paulo Cesar Antonello dos Santos, de 27 anos.



No momento da agressão, a filha de Júlia, de cinco anos, presenciou o ataque do pai. Júlia teve todos os dentes quebrados, assim como alguns ossos do maxilar. De acordo com ela, o marido, violento e ciumento, já havia lhe ameaçado, inclusive de morte. “Desde quando estava grávida de dois meses do meu filho ele começou a brigar. Ele começou a ficar agressivo desde o início da gravidez, e por ser muito ciumento me ameaçava constantemente”, comenta.


Nascida em Lages, Júlia trabalhou como babá até conhecer Paulo, seis anos atrás. Desde lá, passou a ficar em casa a maior parte do tempo, por conta das ameaças e do ciúme do marido. “Ele me ameaçava de morte. Ele dizia que se ele me pegasse com outra pessoa, me matava. Se eu saísse de casa, ele me matava. Ele falava muito que ia levar as crianças”, completa.



Há pouco mais de três meses a polícia foi chamada para tirar Paulo da casa. Ele, porém, passou a residir na mesma rua da casa de Júlia. Ainda que as agressões físicas e psicológicas fossem frequentes, Júlia conta que mantinha o relacionamento por conta da filha, muito apegada ao pai.
 



Agressão foi sem motivo



Júlia diz não entender o motivo da agressão. Ela lembra que, depois de chegar em casa, foi passar roupa, enquanto o marido fazia o jantar. Na sequencia, ela recorda que colocou os filhos para dormir. Após isso, a última lembrança é de já estar sob os cuidados médicos. “Depois só lembro de estar aqui, no hospital com o médico, e antes, com o policial. Sobre o que aconteceu não lembro nada, nada”, afirma. A única pessoa que presenciou o golpe recebido por Júlia foi a filha. “Eu sei que ela estava junto, porque ela conta.”, diz.



Depois da situação pela qual passou, Júlia comenta que deixou os dois filhos com a mãe. Apesar da saudade, ela não quer que eles vejam a mãe na situação que se encontra. “Não me vi ainda, mas imagino como esteja. Estou com muita saudade deles. Eles não vieram aqui no hospital e nem quero que venham”, comenta.



Ela passou por cirurgia e comemora o fato de já poder se alimentar. Mesmo assim terá que se submeter a outros procedimentos para recuperar os ferimentos causados pela agressão.



Paulo Cesar assumiu o risco de matar


Na segunda-feira (06), Paulo Cesar Antonello dos Santos apresentou-se voluntariamente às autoridades, acompanhado por seu advogado. Com o mandado de prisão preventiva decretado pela Polícia Civil, por haver fugido após o crime, ele foi recolhido ao Presídio Regional de Lages.  



De acordo com o delegado Raphael Bellinati, responsável pelo caso, a ocorrência se enquadra dentro da Lei Maria da Penha, por se tratar de situação de violência doméstica, porém também pode-se considerar que houve crime doloso contra a vida, porque Paulo assumiu o risco de matar por “investir contra a cabeça dela com um machado”, resume o delegado.



Fotos: Afonso Rodrigues

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