Curitibanos, 04/04/2014 A Semana
A exposição de imagens eróticas de mulheres
curitibanenses, muitas delas menores de idade, foi o assunto nas redes
sociais e rodas de amigos durante a última semana em Curitibanos. Nunca
se deu tanta importância para a frase que diz “caiu na rede já era”.
Quando se tratava apenas de selfies, imagens de festas com amigos,
viagens, práticas esportivas, entre outros, o clima era de brincadeira,
mas quando a imagem que se propaga descontroladamente pela Internet,
tablets, celulares e afins é de cunho íntimo, a situação é
desesperadora, foge do controle e, mais do que isso, é crime, conforme o
delegado responsável pela Delegacia de Proteção à Criança, ao
Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami) Leandro Carlos Consolo.
Ele frisa que o número de boletins de ocorrência por exposição
indevida de imagens na Internet teve aumento considerável nos últimos
seis meses, sendo de maior incidência, a propagação de imagens eróticas
de menores. “A propagação de imagem sem autorização pode ser
responsabilizada civil e criminalmente. No caso de menores de idade, não
é permitido nem mesmo sob sua autorização, com risco de pena de três a
seis anos de reclusão”, alerta Leandro.
Quando a foto de pessoas adultas é exposta sem autorização, a pena é
de três meses a um ano, pena aplicada também, quando se trata de crime
cibernético, quando a imagem foi subtraída por terceira pessoa ou
hacker. “Indiferente se a imagem foi cedida ou furtada, configura crime e
pode punir tanto quem dissemina quanto quem armazena as imagens. As
vítimas devem denunciar para que possamos fazer o procedimento e
encaminharmos ao Fórum”, reforça Leandro.
Ele completa que os meios de propagação dessas imagens são inúmeros e
isso dificulta o rastreamento dos possíveis divulgadores. As imagens
são armazenadas e enviadas de celulares e tablets, através de
aplicativos como o Whatsapp, e também por computadores, notebooks,
pendrives, CDS e e-mails, seguindo para as redes sociais e espalhando-se
em uma velocidade incontrolável.
O delegado frisa a importância de os pais manterem-se atentos aos
passos dos filhos, pois muitas imagens foram feitas pela webcam ou
câmeras de celulares, dentro de seus próprios lares e pelas próprias
vítimas. Geralmente, essas imagens são repassadas para alguém que
consideram de confiança e surpreendem-se quando são compartilhadas,
causando constrangimentos desde a sala de aula até o trabalho e,
principalmente, no meio familiar. “Na maioria dos casos, a vítima fez as
fotos em sua casa, por vontade própria, e o excesso de confiança a fez
encaminhar as imagens, resultando na foto circulando indiscriminadamente
na rede”, lamenta o delegado.
Para evitar transtornos, Leandro aconselha os pais a deixarem os
computadores em locais de grande circulação dentro de casa, evitando
deixar os filhos sozinhos ou conectados à Internet em locais privativos.
Outra medida importante é denunciar o ato e principalmente a vítima tem
de colaborar, apontando os possíveis divulgadores, para que a
investigação tenha um ponto de partida e possa descobrir de onde
partiram as imagens. A vítima deve, ainda, salvar as imagens que estão
sendo veiculadas e o local de armazenamento.
O delegado salienta que os pais devem conversar com filhos
adolescentes, buscando orientá-los sobre o uso das tecnologias. “Está
faltando comunicação entre pais e filhos. Os adolescentes precisam ser
orientados e conscientizados de que, por mais que os responsáveis pela
divulgação sejam punidos, a imagem será devastada e sua privacidade e
intimidade não serão mais recuperadas”, conclui Leandro.
“São infantis e sem moral”
Uma das vítimas da brincadeira de mau gosto que caiu em redes sociais
e aplicativos como o Whatsapp é a estudante curitibanense Júlia*, de 25
anos, que deixou de residir no município após o incidente. Em
entrevista à reportagem do “A Semana”, ela revela que teve conhecimento
de que suas fotos íntimas se espalhavam pela rede através de uma amiga.
Júlia conta que, em conversa pela Internet com um rapaz que conhecia
há vários anos, compartilhou com ele, fotos comprometedoras, em que
aparecia seminua. “Não tinha nada sério com aquela pessoa, apenas
conhecia há vários anos. Era diversão e, com o tempo, acabei adquirindo
confiança nela, que, por sua vez, mandava fotos ainda mais
comprometedoras que as minhas, de outras meninas da cidade, mas, como eu
confiava, achava que nada ia acontecer”, revela. Segundo Júlia, essa
pessoa afirmava apagar as fotos após o bate-papo e que, inclusive, já
havia visto fotos de outras meninas da cidade, com as quais jamais teve
envolvimento. “Infelizmente, é algo comum entre duas pessoas que têm
intimidade e que deve ficar entre elas. É algo que ninguém mais precisa
ficar sabendo”, lamenta.
A família
A estudante conta que, assim que teve conhecimento de que suas fotos se dissipavam pela rede, a primeira reação foi comunicar a família. “No mesmo dia, reuni a família e esclareci o fato. Obviamente, reagiram com repúdio e frustração, como era de se esperar, mas, depois, ficaram e estão do meu lado. Por as fotos não conterem conteúdo que podemos chamar de pornográfico, como em outros casos, a reação não foi maior”, avalia Júlia.
Ela ressalta que várias meninas, entre 14, 15 e 16 anos, até mulheres
acima dos 35 têm fotos íntimas espalhadas pela rede. No caso das
adolescentes, muitos pais ainda não tiveram conhecimento e Júlia
aconselha que as jovens chamem seus pais para uma conversa e esclareçam a
situação. “Uma atitude simples que demonstra reconhecer o erro diante
dos responsáveis e evita que saibam por outras pessoas”, aconselha.
Whatsapp
Segundo Júlia, há crianças, rapazes e homens maduros que trocam esse tipo de foto pelas redes sociais e especialmente pelo Whatsapp, sendo que alguns já tiveram algum tipo de caso passageiro ou até mesmo relacionamentos com meninas das fotos e, agora, querem denegrir sua imagem. Para ela, tudo se dissipou devido ao compartilhamento desenfreado das imagens através do aplicativo. “Acharam divertido ficar rindo das mulheres que confiaram neles para fazer isso. São infantis e sem moral e não pensam que pode acontecer com sua irmã, sua mãe, tia, cunhada. É lamentável a falta de maturidade que surgiu após portarem a confiança das vítimas”, finaliza Júlia.
*Júlia nome fictício, para preservar a identidade da fonte
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