sábado, 3 de maio de 2014

Hospitais de municípios menores da região sofrem com falta de recursos

Hospitais dos municípios pequenos sofrem com falta de recursos
Lages, 03 e 04/05/2014, Correio Lageano, por Joana Costa



Poucos internamentos levam à baixa arrecadação nos hospitais da região. Essa é uma das principais dificuldades dos hospitais dos municípios da região da Serra Catarinense. Exemplo dessa situação acontece na Fundação Hospitalar Municipal Faustino Riscaroli, em Correia Pinto. O hospital possui centros cirúrgico e obstétrico montados, mas não funciona por falta de especialistas e recursos para operar.



A média de 20 internações mensais em 2013, baixou para cinco em 2014. Como consequência o hospital recebeu menos Autorizações de Internação Hospitalar (AIHs), recursos repassados pelo Governo Federal por internação pelo SUS.
O hospital consegue manter folha de pagamento, pagar contas de água, luz, manutenção, compra de medicamentos com os recursos repassados pela prefeitura, que é de R$ R$ 150 mil por mês.



“Nós estamos atendendo emergência 24 horas e alguns médicos não são daqui do município. Eles vêm de fora e não querem internar porque não querem ter o compromisso de fazer visitas. Sem internações, cai a arrecadação do hospital”, explica Dilmar Pereira, diretor administrativo.



Segundo ele, o hospital chegou a ficar sem médicos em alguns períodos, mas a situação foi contornada com a contratação de uma nova médica no início do mês.



Hoje o hospital conta com sete médicos e está construindo uma sala de estabilização, que é espaço para manter pacientes em estado grave estabilizados até que possam ser transferidos para uma UTI. A obra de adequação custa R$ 15 mil e é realizada com recursos do município. “Estamos arrumando a sala, reunindo todos os materiais, equipamentos, área física e pleiteamos o repasse mensal de R$ 25 mil/mês do Governo Federal para conseguir manter a medicação e material da sala”, completa.



Instituições estão endividadas

O  Hospital de Caridade Coração de Jesus, em São Joaquim, tem acumulados R$ 15 milhões em dívidas, que começaram em 1975, e segundo a superintendente, Agna Mara Schleting de Oliveira, só aumentaram.



Por causa das dívidas a entidade não consegue firmar convênios e conta com a Associação do Voluntariado da Saúde do Hospital que repassou em dezembro de 2013 e início deste ano parcelas de R$ 200 mil do governo do estado. “Com esse recurso, ano passado conseguimos pagar salários e décimo terceiro”.



Entre as maiores dívidas está a da Agência Nacional de Saúde, que passa de R$ R$ 2 milhões e com a Celesc que passa de R$ 7 milhões, tentando negociação.



Situação semelhante é a do Hospital São José, de Bocaina do Sul. Ele é mantido pelo SUS e é referência em psiquiatria. A instituição contabiliza cerca de  R$ 1 milhão de dívidas com a Celesc e em impostos. “Em 2013 a nova diretoria assumiu e busca recursos”, afirmou o diretor administrativo Diordenes Alexandre Knol. O hospital ganhou repasse de R$ 500 mil do governo do estado para reformas.



Em Ponte Alta as dívidas são de R$ 450 mil. O presidente da Fundação Médico Social Rural de Ponte Alta, Ademar Colossi, explica que as dívidas são de ações trabalhistas e com fornecedores. O hospital é mantido pelo convênio com a Prefeitura. “Ela ajuda na parte de folha de pagamento. Estamos aguardando repasse do Estado com a entidade de R$ 380 mil para reforma”, acrescenta.



Apenas a emergência está em funcionamento

Hospital Nossa Senhora das Graças, de Bom Retiro, anunciou no início do mês que fecharia as portas por falta de dinheiro, mantendo apenas os serviços de urgência e emergência.



Na última terça-feira (29), a prefeitura apresentou proposta onde não aumentaria os repasses mensais, mas emprestaria um médico três vezes por semana ao hospital.
O hospital é administrado pela Associação Nossa Senhora das Graças, que rejeitou a proposta, como informou o administrador Fernando Borges da Silveira.


“Permanecemos na mesma situação”, afirmou. A resposta foi protocolada na última segunda-feira (28).



 A prefeitura repassa mensalmente R$ 33 mil para custeio da folha de pagamento dos médicos. A associação pede mais R$ 15 mil para a manutenção do hospital.



Hoje apenas a urgência e emergência está funcionando, mas os medicamentos começam a acabar. “No feriado de 1ª de maio ficamos sem médico da emergência”, contou o administrador.


Segundo ele, o hospital sofre com o baixo número de internações que reflete em poucos recursos do SUS pelas AIHs.?



Estado ajuda buscando recursos

A Gerência Regional de Saúde tem conhecimento das dificuldades dos municípios. Para a gerente Camila Baccin, a diminuição das  internações e das AIHs demonstra o sucesso do trabalho na atenção básica. “É uma internação por pneumonia que está sendo evitada pela vacina, os casos dos diabéticos e hipertensos que estão sendo controlados na atenção primária”, analisa.



Ela destaca que o hospital precisa manter o plantão médico, sistema de raio X para diagnóstico, ambulatorio e uma equipe profissional mínima e estão sem recursos. Por isso a Regional busca parcerias e recursos para manutenção e estruturação dos hospitais, especialmente aqueles que têm emergência 24 horas. Através do Ministério da Saúde os hospitais de São Joaquim, Urubici,  Otacílio Costa, Campo Belo do Sul e os três hospitais de Lages para manter as portas abertas receberão apoio.



“Os quatro vão ganhar R$ 100 mil cada para equipar suas salas e estabilização e mais R$ 25 mil, como um plus para incrementar a receita”. Também foram repassados R$ 500 mil para o hospital de Bocaina do Sul e R$ 200 mil para Ponte Alta.



“Em Ponte Alta, são contas de internações que estavam paradas para as AIHs. Em São Joaquim, vamos auditar as contas. Lá há cerca de 3 mil AIHs paradas, que chegariam a um monte de R$ 1 milhão”, explica Jorge Floriani, auditor da Gerência Regional de Saúde.



A intenção da região é unir forças com as demais esferas governamentais para ajudar as instituições. “As pessoas entendem o hospital como referência, o porto seguro. A nossa preocupação é com esses vazios assistenciais”, completa Camila.



Foto: Joana Costa

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