quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Em 8 anos, Lages registra mais de 13 mil acidentes

Em 8 anos, Lages registra mais de 13 mil acidentes

Lages, 06/09/2013, Correio Lgeano, por Susana Küster



As estatísticas do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) mostram que Lages registra muitos acidentes de trabalho que acontecem devido à falta de segurança e prevenção nas empresas.



O órgão conta com profissionais de fisioterapia, psicologia, enfermagem, medicina, assistência social e técnicos de enfermagem que fazem as visitas domiciliares às vítimas,  de forma gratuita.



A técnica em segurança do trabalho do Cerest, Angelita Ribeiro, diz que o setor onde mais ocorrem acidentes é o da construção civil. “É preciso investir em equipamentos de segurança coletiva e individual”.



O diretor regional do sindicato da área, Emerson Luiz da Silva, diz que o técnico em segurança contribui para a redução do número de acidentes na empresa. “Ele possui métodos para reduzir os riscos, inspecionar os locais da empresa e investigar os casos que aconteceram para identificar as causas”.Silva sugere incluir o tema nas escolas uma vez por semana, para ajudar a reduzir as ocorrências.



Acidentes de trabalho

Ramo de atividade com maior número de notificações Em 2012
  •  Autônomo    235
  •  Servidor público    191
  •  Comércio    161


Em 2013

  • Autônomo    83
  •  Indústria    75
  •  Comércio    64


Acidentes notificados em 2012


  •  Total    3407
  •  Na empresa    1940
  •  Trajeto    303


Acidentes notificados em 2013


  •  Total    1956
  •  Na empresa    1113
  •  Trajeto    131



Cozinheira queimou parte do corpo com álcool no local de trabalho


Em 10 anos como cozinheira, Maria Helena Bittencourt não achava que iria sofrer um acidente de trabalho com fogo. Ela pegou um balde cheio de álcool que caiu no lado esquerdo do seu corpo, se secou com papel toalha, achando que pelo fato de ser álcool em gel, nada iria acontecer. Porém, quando pegou foi acender as chamas debaixo das bandejas de comida da empresa em que trabalhava, seu corpo se incendiou.



Consequências


O resultado foram queimaduras de 3º grau no pescoço, barriga, braço e perna esquerda, e diminuição do osso do ombro esquerdo. Mesmo depois de sete meses do acidente, ela ainda tem uma sensação de calor forte onde sofreu as queimaduras, principalmente nos dias mais quentes.



Sua pressão que era controlada, disparou e ela precisa tomar cinco medicamentos para amenizar as dores e baixar a pressão. Ela diz que não pretende voltar a trabalhar como cozinheira e conta que as outras duas mulheres que trabalhavam com ela, se demitiram.



 Com a ajuda de um advogado, ela processa a empresa por omissão de socorro, pois afirma que a enfermeira, que seria a principal responsável em ajudá-la, fugiu quando a viu pegando fogo. “Se não fosse uma colega minha jogar um balde de água sobre mim, teria morrido queimada. Depois que ela jogou a água, corri para o chuveiro, foi horrível”, lembra.



Ela conta que queria tirar suas roupas queimadas, mas ninguém queria ajudá-la. “A enfermeira me dizia é melhor não mexer e tente não gritar muito”, lamenta. Maria diz que um colega de trabalho chegou a pegar o extintor, mas o equipamento não funcionou. “Eu olhava para o meu avental e via que ele escorria nas minhas pernas, pois era de plástico”, lembra.



Recuperação


Foi preciso ficar um mês internada na ala de queimados do Hospital Tereza Ramos. “O ruim é que fiquei quatro dias no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, esperando uma vaga na ala de queimados”, comenta.



Além de tomar cinco medicamentos por dia, ela faz fisioterapia há quatro meses na mão esquerda, pois, por causa da queimadura não conseguia movimentar os dedos. Ela vai fazer uma ressonância no ombro para ver se há procedimentos que ajudem a recuperar o osso que diminuiu de tamanho. “O médico disse que talvez somente com a infiltração resolva”, diz.



O lóbulo de sua orelha esquerda derreteu e grudou na pele do pescoço, ela precisará fazer uma cirurgia plástica para reparar este dano. “Machuca quando viro o pescoço”, conta.


Mais de 1.500    dias sem acidente de trabalho


A empresa Malke de Lages, completa hoje 1.502 dias sem acidente de trabalho com afastamento. Um dos técnicos em segurança do trabalho da empresa, Ricardo Loregian, conta que para atingir esta meta foi preciso investir na conscientização e treinamento dos funcionários.



Ele explica que é feito diariamente um diálogo de segurança com pelo menos 70% dos funcionários de cada setor. “Acredito que isso, aliado às palestras e treinamentos mensais, possibilitaram a empresa alcançar este resultado”, frisa. Para ele, um técnico em segurança do trabalho na empresa neutraliza os riscos de acidente em potencial com as ações que executa.



Uma das formas de diminuir os acidentes é através de uma planilha que gera indicadores comparativos com períodos do ano. “Deste forma é possível ver o que está certo e errado, e, melhorarmos a segurança nos locais de trabalho”, salienta.



Empresa



A Malke possui, atualmente, 270 funcionários nos setores de classificação, higienização, armazenamento e embalamento das maçãs. Os funcionários do pomar também seguem regras de segurança para evitar os acidentes de trabalho.



Jovem está quase há um ano na cama e sem falar



Com 67 anos, a aposentada Aglacir Camargo não esperava ter que dar banho, trocar fralda e alimentar o seu filho de 33 anos, Daniel Camargo de Oliveira.



Ele sofreu um acidente de trabalho no dia 19 de outubro do ano passado, quando subiu no telhado da empresa em que trabalhava para ajudar a apagar um incêndio e caiu  de uma altura de 10 metros.



Desde então, o jovem que nunca mais falou, está acamado e recebe a alimentação por sonda. O lado direito do corpo está paralisado, a perna e o braço esquerdos quebraram, e ele aguarda cirurgia para tentar corrigir o problema no braço.



Ele passou por uma cirurgia onde foi tirado um pedaço do osso do crânio, pois seu cérebro estava inchado, mas dois meses depois o osso foi recolocado. Sua mãe conta sua história emocionada e acredita que o filho vai voltar a ter uma vida normal. “Mas ele precisa de uma fonoaudióloga, para voltar a falar e se alimentar”. O jovem tem sessões semanais de fisioterapia e recebe atendimento psicológico, além do acompanhamento de um médico do Cerest.


Desde que sofreu o acidente, há quase um ano, Daniel emagreceu 30 quilos e toma cinco medicamentos por dia. A mãe conta que ele sorriu cinco vezes desde que ficou doente. “Eu chorei quando isso aconteceu, ele sempre está muito triste, de vez em quando lágrimas escorrem pelo seu rosto. A médica disse que ele entende tudo o que está acontecendo”, revela.



Fotos: Susana Küster

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