São quase 86 mil veículos circulando e menos de 56 mil casas. Indicativo de melhor poder econômico e problemas no trânsito
Carros mais baratos, condições facilitadas, salários e engarrafamentos maiores. Nos últimos 10 anos, Lages colocou nas ruas 42.508 carros, quase dobrando a quantidade de veículos que existiam na cidade. É parte do cenário que colocou Santa Catarina como o estado que tem a maior taxa de veículos por habitante do Brasil.
Seis em cada 10 habitantes catarinenses possuem carro. Em Lages, 53% da população tem pelo menos um veículo na garagem. Se colocasse todos os carros de cidade um atrás do outro, a fila encheria a BR-282 de Lages até Chapecó. São mais veículos que domicílios. O cenário é resultado de políticas que baratearam a compra. Um Fiat Uno Fire 1.0, que em 2002 custava (em valor corrigido pela inflação) R$ 25.158, hoje é comprado por R$ 21.506.
Queda de 14,5% no preço. O resultado disso, é que o lageano está tendo que se acostumar a gastar 10 minutos de seu tempo em um único semáforo. Na opinião do secretário de segurança e patrimônio de Lages, Jacinto Bet, isso é bom na ótica econômica, mas ele se questiona “onde colocar tanto carro?”.
A prefeitura de Lages fez um plano diretor em 2007 e um estudo para reorganização do trânsito. Por conta disso foram feitas algumas obras e as mudanças nas direções das ruas. Os binários (onde uma rua tem trânsito em um sentido e uma paralela faz o inverso) foi uma das maneiras de melhorar a mobilidade. Também se investiu na reforma de algumas ruas e avenidas, mas ainda há alguns projetos a serem implantados. Jacinto explica que é preciso investir muito para chegar em um patamar bom. Ele cita Curitiba, que derrubou prédios, fez viadutos e se tornou uma das cidades com melhor mobilidade urbana do mundo.
O grande problema é que Lages não tem dinheiro para isso. Segundo Bet, a cidade possui entre 2% e 3% do orçamento disponível para investimentos. O restante é comprometido com dívidas, saúde, educação, manutenção e administração da prefeitura. “O dinheiro tem que vir via federal”.
Para o secretário, a cidade precisa criar um instituto de planejamento, visto que a união tem recursos disponíveis para os municípios, mas não recebe projetos para que estas verbas sejam usadas.
Em Lages existem alguns, como a avenida Ponte Grande, a Santa Catarina (em execução) e Juscelino Kubitschek que já estão no papel. Para Bet, a cidade está bem no quesito mobilidade. “Sendo bem otimista, creio que em dois ou três anos a cidade estará em uma boa condição de mobilidade”.
Durante esse período, uma nova concessão de transporte público acontecerá. Também sairão do papel algumas ciclovias. O que pode atrapalhar a mobilidade é se o número de carros avançar mais rápido que do que os planos da prefeitura, diz Jacinto Bet. “Tem mais carros que domicílios, é um absurdo, mas indica que a renda do lageano está aumentando”.
Ciclovia da Humberto de Campos continua funcionando
Apesar da reclamação de alguns comerciantes da rua Humberto de Campos, no bairro Sagrado Coração de Jesus, o secretário de segurança e patrimônio Jacinto Bet diz que a ciclovia continua.
Houve protesto de ciclistas que pediram pela manutenção da via. O secretário afirma que esta é a tendência mundial e que os comerciantes precisarão construir seus próprios estacionamentos. “Quando se fala em mobilidade é para fluir, e não parar. Estacionamento é imobilidade”, atesta Bet.
Segundo ele, existe uma ordem do prefeito Renato Nunes de Oliveira (PP) para estudar a viabilidade da implantação de ciclovias em todas as obras que estão sendo feitas. Até agora, existem três (avenida Belizário Ramos, Humberto de Campos e Dom Pedro II) e mais uma está em implantação, na avenida Duque de Caxias.
Existem
2 casas para cada
3 carros em Lages
Nos últimos
10 anos a frota aumentou 98% em Lages. Em santa Catarina, esse número é de 117%
Emplaca-se cerca de 450 carros por mês em Lages
Hoje são 85.957 carros com a placa de Lages
Todos os carros de Lages enfileirados formariam uma fila de pouco menos de
300 km, sendo que a cidade possui menos de 700 km de ruas.
Foto:Thomas Michel
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