Lages, Palhoça, 08/01/2013, Correio Lageano, por Núbia Garcia
Família lageana que estava em barco que naufragou em Palhoça volta aliviada para casa
Quando sugeriu à família que fizesse uma oração na hora do almoço de sábado (5), pois seria o último com todos juntos na praia nestas férias, a comerciante Kary Cristine da Silva, 41 anos, nem imaginava que pouco mais de cinco horas depois, um novo pedido por oração manteria mais de 20 pessoas unidas para aguardar resgate, após o naufrágio do barco em que faziam um passeio turístico.
Era por volta de 17 horas quando Kary conseguiu realizar um sonho: embarcar com a família em um barco, para um passeio turístico na costa da Praia da Pinheira, em Palhoça. “Em dez anos que a gente passa as férias juntos na praia, sempre víamos o barco passeando e eu tinha muita vontade de ir. Convenci toda a família, até meu pai, que não gosta muito de se arriscar, a embarcar”, lembra.
Junto à família lageana, estavam mais um casal de mineiros, nove turistas gaúchos e um casal de alemães. O naufrágio aconteceu poucos minutos após o embarque.
Um dos tripulantes conseguiu ligar para um amigo, que estava na praia, e avisar do acidente. Este se encarregou de chamar socorro. “Nós não acreditávamos que ele tinha conseguido pedir socorro, porque achávamos que lá não tinha sinal de celular”, diz a comerciante.
Em meio ao desespero, Kary pediu à mãe que rezasse o Pai Nosso. Nilva então puxou a oração e foi seguida por todos. “Eu sentia a oração tão forte, como se tivesse um batalhão rezando com a gente. Até o alemão, que não entendia o que falávamos, rezou junto”, conta Nilva.
Cerca de 45 minutos após o naufrágio, os passageiros começaram a ser resgatados. Os bombeiros contaram com a ajuda de pilotos de jet ski, que participavam de uma competição nas proximidades do local do acidente. Treze pilotos ajudaram no resgate.
De volta à sua casa, em Lages, na noite de domingo (6), a família de Kary quase nem acreditava no que havia acontecido, mas garante que não ficou traumatizada e faz planos para as próximas férias que vão passar na praia. “Só que vamos passar longe dos barcos”, brinca Kary.
Preferência no resgate para crianças e idosos
As duas pessoas mais frágeis do naufrágio eram o pai de Kary, Nelson Pereira da Silva, 72 anos, e a sobrinha, Luna da Silva, de apenas 5 anos. O colete de Nelson escapou e ele chegou a afundar por duas vezes, mas conseguiu submergir e se agarrou às cordas do barco, assim como os demais passageiros.
A pequena Luna, que foi a primeira a ser resgatada, foi deixada em segurança pelo pai, Emerson da Silva, 33 anos, que passou a maior parte do tempo auxiliando seu pai, Nelson. “Na hora que o barco virou eu só pensava ‘mas será que vai morrer todo mundo tão fácil?” Quando meu filho me segurou e eu consegui ver minha netinha, tive certeza que iríamos sobreviver”, lembra Nelson.
Em meio ao desespero, Kary se manteve próxima dos dois filhos, Felipe e Fabrício Magaldi Pereira, de 14 e 21 anos, respectivamente. “Depois de algo como este acidente, a gente passa a dar muito mais valor à vida. Acho que aprendi a dar mais valor à minha família também”, comenta Felipe.
Fabrício, um dos passageiros mais jovens, conta que tentou se manter calmo para ajudar as outras pessoas. “Eu sabia que precisava ajudar alguém, mas tinha que escolher. Encontrei meu irmão, pedi para ele me agarrar e disse para ficar assim, porque se ele afundasse, eu ia junto”, lembra.
Acidente é incomum
O capitão da Capitania dos Portos de Santa Catarina, Cláudio da Costa Lisboa, informou que não há histórico em Santa Catarina de acidentes como este, com bote inflável.
Segundo a assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, o proprietário da embarcação relatou que o casco de fibra se destacou das boias infláveis do bote e o mesmo começou a afundar. Por telefone, uma atendente da empresa “Central de Aventura”, de Palhoça, informou que Charles Sell, proprietário da embarcação não estava no local e que se sentia abalado e cansado para dar entrevistas.
A Capitania dos Portos de Santa Catarina abriu Inquérito Administrativo sobre Fatos e Acidentes da navegação para apurar as causas do acidente e apontar os possíveis culpados. O prazo para a conclusão do inquérito é de 90 dias. O proprietário do bote foi notificado e terá até oito dias úteis para comparecer à Capitania dos Portos.
Nilva Terezinha da Silva, de 62 anos
Correio Lageano: Qual foi o momento de maior emoção?
Nilva: Quando terminei de rezar e abri meus olhos. Eu vi uma luzinha bem de longe, muito pequena. Foi uma emoção muito forte quando notei que era o helicóptero soltando o primeiro socorrista
CL A senhora pensou que não sobreviveria?
Nilva: Quando olhei a minha neta Luna indo bem longe de mim e não enxerguei o meu marido Nelson, eu pensei “agora eu quero morrer”. Não conseguiria viver sem eles, não queria ficar sozinha. Mas graças a Deus e saímos todos bem de lá.
CL: A senhora sentiu medo?
Nilva: Não tive medo porque eu entreguei nas mãos de Deus. Ele sabia o que era melhor e tenho certeza que a nossa oração ajudou a nos salvar.
CL: Como se sentiu ao chegar em casa, em Lages?
Nilva: Deitei na minha cama e só pensava em agradecer a Deus por voltar sã e salva, sem perder ninguém.
Kary Cristine da Silva, de 41 anos
CL: Você se preocupou com a segurança do barco antes do início do passeio?
Kary: Conversei com quem estava. Na mesma tarde fui três vezes me informar com o pessoal do programa como funcionava, se não tinha problema em relação aos ventos, se podia levar criança. Eles deixaram bem claro quanto à segurança. O que aconteceu foi uma fatalidade.
Que lição você tirou deste acidente?
Kary: Nunca questionamos a união da nossa família, mas foi fortalecida. Além disso, tirei uma lição para mim, que sou muito aventureira e nunca tive medo de nada. Estava até programando um voo de parapente em fevereiro, mas acho que não tem porque se aventurar tanto. A gente precisa buscar a interiorização, a paz de espírito. Eu preciso me preocupar mais é com a família mesmo, de estar mais em paz com eles.
CL: Como foi quando vocês chegaram em terra firme?
Kary: Foi uma lição de como as pessoas precisam uma das outras. Foi muito comovente chegar à praia e ver que muitas pessoas estavam torcendo por nós. Pessoas que nunca vimos na vida, nos receberam com toalhas secas e garrafas d’água. Eu até vim para casa com uma canga de praia, bem colorida, que alguém entregou para nos cobrir.
Fotos: Núbia Garcia
Família lageana que estava em barco que naufragou em Palhoça volta aliviada para casa
Quando sugeriu à família que fizesse uma oração na hora do almoço de sábado (5), pois seria o último com todos juntos na praia nestas férias, a comerciante Kary Cristine da Silva, 41 anos, nem imaginava que pouco mais de cinco horas depois, um novo pedido por oração manteria mais de 20 pessoas unidas para aguardar resgate, após o naufrágio do barco em que faziam um passeio turístico.
Era por volta de 17 horas quando Kary conseguiu realizar um sonho: embarcar com a família em um barco, para um passeio turístico na costa da Praia da Pinheira, em Palhoça. “Em dez anos que a gente passa as férias juntos na praia, sempre víamos o barco passeando e eu tinha muita vontade de ir. Convenci toda a família, até meu pai, que não gosta muito de se arriscar, a embarcar”, lembra.
Junto à família lageana, estavam mais um casal de mineiros, nove turistas gaúchos e um casal de alemães. O naufrágio aconteceu poucos minutos após o embarque.
Um dos tripulantes conseguiu ligar para um amigo, que estava na praia, e avisar do acidente. Este se encarregou de chamar socorro. “Nós não acreditávamos que ele tinha conseguido pedir socorro, porque achávamos que lá não tinha sinal de celular”, diz a comerciante.
Em meio ao desespero, Kary pediu à mãe que rezasse o Pai Nosso. Nilva então puxou a oração e foi seguida por todos. “Eu sentia a oração tão forte, como se tivesse um batalhão rezando com a gente. Até o alemão, que não entendia o que falávamos, rezou junto”, conta Nilva.
Cerca de 45 minutos após o naufrágio, os passageiros começaram a ser resgatados. Os bombeiros contaram com a ajuda de pilotos de jet ski, que participavam de uma competição nas proximidades do local do acidente. Treze pilotos ajudaram no resgate.
De volta à sua casa, em Lages, na noite de domingo (6), a família de Kary quase nem acreditava no que havia acontecido, mas garante que não ficou traumatizada e faz planos para as próximas férias que vão passar na praia. “Só que vamos passar longe dos barcos”, brinca Kary.
Preferência no resgate para crianças e idosos
As duas pessoas mais frágeis do naufrágio eram o pai de Kary, Nelson Pereira da Silva, 72 anos, e a sobrinha, Luna da Silva, de apenas 5 anos. O colete de Nelson escapou e ele chegou a afundar por duas vezes, mas conseguiu submergir e se agarrou às cordas do barco, assim como os demais passageiros.
A pequena Luna, que foi a primeira a ser resgatada, foi deixada em segurança pelo pai, Emerson da Silva, 33 anos, que passou a maior parte do tempo auxiliando seu pai, Nelson. “Na hora que o barco virou eu só pensava ‘mas será que vai morrer todo mundo tão fácil?” Quando meu filho me segurou e eu consegui ver minha netinha, tive certeza que iríamos sobreviver”, lembra Nelson.
Em meio ao desespero, Kary se manteve próxima dos dois filhos, Felipe e Fabrício Magaldi Pereira, de 14 e 21 anos, respectivamente. “Depois de algo como este acidente, a gente passa a dar muito mais valor à vida. Acho que aprendi a dar mais valor à minha família também”, comenta Felipe.
Fabrício, um dos passageiros mais jovens, conta que tentou se manter calmo para ajudar as outras pessoas. “Eu sabia que precisava ajudar alguém, mas tinha que escolher. Encontrei meu irmão, pedi para ele me agarrar e disse para ficar assim, porque se ele afundasse, eu ia junto”, lembra.
Acidente é incomum
O capitão da Capitania dos Portos de Santa Catarina, Cláudio da Costa Lisboa, informou que não há histórico em Santa Catarina de acidentes como este, com bote inflável.
Segundo a assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, o proprietário da embarcação relatou que o casco de fibra se destacou das boias infláveis do bote e o mesmo começou a afundar. Por telefone, uma atendente da empresa “Central de Aventura”, de Palhoça, informou que Charles Sell, proprietário da embarcação não estava no local e que se sentia abalado e cansado para dar entrevistas.
A Capitania dos Portos de Santa Catarina abriu Inquérito Administrativo sobre Fatos e Acidentes da navegação para apurar as causas do acidente e apontar os possíveis culpados. O prazo para a conclusão do inquérito é de 90 dias. O proprietário do bote foi notificado e terá até oito dias úteis para comparecer à Capitania dos Portos.
Nilva Terezinha da Silva, de 62 anos
Correio Lageano: Qual foi o momento de maior emoção?
Nilva: Quando terminei de rezar e abri meus olhos. Eu vi uma luzinha bem de longe, muito pequena. Foi uma emoção muito forte quando notei que era o helicóptero soltando o primeiro socorrista
CL A senhora pensou que não sobreviveria?
Nilva: Quando olhei a minha neta Luna indo bem longe de mim e não enxerguei o meu marido Nelson, eu pensei “agora eu quero morrer”. Não conseguiria viver sem eles, não queria ficar sozinha. Mas graças a Deus e saímos todos bem de lá.
CL: A senhora sentiu medo?
Nilva: Não tive medo porque eu entreguei nas mãos de Deus. Ele sabia o que era melhor e tenho certeza que a nossa oração ajudou a nos salvar.
CL: Como se sentiu ao chegar em casa, em Lages?
Nilva: Deitei na minha cama e só pensava em agradecer a Deus por voltar sã e salva, sem perder ninguém.
Kary Cristine da Silva, de 41 anos
CL: Você se preocupou com a segurança do barco antes do início do passeio?
Kary: Conversei com quem estava. Na mesma tarde fui três vezes me informar com o pessoal do programa como funcionava, se não tinha problema em relação aos ventos, se podia levar criança. Eles deixaram bem claro quanto à segurança. O que aconteceu foi uma fatalidade.
Que lição você tirou deste acidente?
Kary: Nunca questionamos a união da nossa família, mas foi fortalecida. Além disso, tirei uma lição para mim, que sou muito aventureira e nunca tive medo de nada. Estava até programando um voo de parapente em fevereiro, mas acho que não tem porque se aventurar tanto. A gente precisa buscar a interiorização, a paz de espírito. Eu preciso me preocupar mais é com a família mesmo, de estar mais em paz com eles.
CL: Como foi quando vocês chegaram em terra firme?
Kary: Foi uma lição de como as pessoas precisam uma das outras. Foi muito comovente chegar à praia e ver que muitas pessoas estavam torcendo por nós. Pessoas que nunca vimos na vida, nos receberam com toalhas secas e garrafas d’água. Eu até vim para casa com uma canga de praia, bem colorida, que alguém entregou para nos cobrir.
Fotos: Núbia Garcia
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