sábado, 16 de novembro de 2013

Lages registra 2,9 mil queixas de violência contra a mulher

Lages registra 2,9 mil queixas de violência contra a mulher
Lages, 16 e 17/11/2013, Correio Lageano, por Adecir Morais



Os casos de violência contra a mulher, em Lages, na Serra Catarinense, chamam a atenção. Só este ano, a Polícia Civil registrou 2.900 boletins de ocorrências deste tipo de violência, uma média de nove casos por dia.





O balanço detalha que deste total, foram instaurados 530 procedimentos na Delegacia da Mulher, e expedidos 107 autos de prisão em flagrante contra os agressores. De janeiro a junho de 2012, foram 793 ocorrências, segundo outro dados da polícia.




Dentre os casos registrados este ano, um dos mais impactantes foi o assassinato de Roberta Aparecida Branco, de 29 anos, morta a facadas no último dia 10, no bairro Copacabana.




Na avaliação da delegada Regional, Luciana Rodermel, apesar dos registros e denúncias, as vítimas continuam mantendo o relacionamento afetivo conjugal com seus agressores, o que geralmente desencadeia em nova agressão, ameaça, em nova violência doméstica.




“São inúmeros os casos e podemos dizer que a imensa maioria das denúncias efetuadas é retratada ou retirada pelas vítimas que manifestam desinteresse no prosseguimento do inquérito policia”, comenta a delegada.





Mapa da Violência

Dados do Mapa da Violência 2012 revelam que, em 2008, três homicídios foram registrados em Lages, contra dois em 2009, e 12 em 2010. O segundo município catarinense da lista é Mafra, no Norte do Estado, seguido de Criciúma, no Sul do Estado.




A delegada discorda dos números. Segundo ela, “não existe qualquer parâmetro que evidencie Lages como sendo destaque negativo” no número de crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher. “A fonte utilizada foi o Sistema de Informações de Mortalidade, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SIM), com base na descrição de causa da morte, correspondendo ao somatório de mais de vinte categorias decorrentes de agressões”, entende.




O que diz a Lei Maria da Penha sobre agressões


Criada em 2006, a Lei Maria da Penha (11.340 de 7 de agosto de 2006) combate a violência contra a mulher. Ela não enquadra apenas os casos de violência física, mas também psicológica, moral, sexual e patrimonial.




A delegada Luciana Rodermel esclarece a lei. Segundo ela, após efetuada uma denúncia de violência doméstica e familiar contra a mulher, a vítima presta depoimento e, caso queira, pode pleitear a concessão de medidas protetivas de urgência que somente podem ser deferidas pelo juízo.




O procedimento

Inquérito policial tramita com produção de provas, juntada de laudos periciais, oitiva de testemunhas e interrogatório do investigado. Uma vez concluído é encaminhado ao Poder Judiciário para as providências legais. Entretanto, quando a vítima ou terceiro aciona a polícia no momento da ocorrência da agressão, é possível que seja configurado estado de flagrância. Dessa forma, o agressor deve ser conduzido e uma vez cumpridos os requisitos legais, o mesmo pode ser preso em flagrante.





Sentimento de posse do homem motiva violência


Para a professora Patrícia Alves de Souza, que realizou um trabalho de mestrado sobre a violência contra a mulher, dentre os fatores responsáveis por este tipo de violência, está o “sentimento de posse” que o homem tem. “Deixar marcas visíveis no corpo da mulher, geralmente no rosto, é uma forma de dominação masculina. A marca fica a mostra para toda sociedade ver”, comenta a pesquisadora.




Além disso, ela afirma que a dependência emocional é também um dos principais fatores responsáveis por este tipo de violência. “A mulher vítima de violência geralmente tem a autoestima baixa e fica dependente do agressor”, diz, destacando que outros fatores, como a dependência financeira, ciúmes doentio, machismo, também contribuem para as agressões.




Para ela, a violência doméstica sempre existiu. Ocorre que agora o problema começou a ter mais visibilidade em razão da Lei Maria da Penha. “Elas estão acreditando mais nas políticas públicas e nos serviços de acolhimento, por isso que a procura aumentou”.





Falta estrutura

Na avaliação da professora, a Lei Maria da Penha é boa, mas ainda falta estrutura na rede de atendimento às vítimas, como a construção de mais abrigos, além de um melhor atendimento psicológico – dependendo da região do Brasil, e acesso aos serviços jurídicos. Segundo ela, hoje há apenas 72 casas de abrigo no Brasil, um número baixo para atender a demanda. Em Lages, por exemplo, uma unidade está sendo construída, mas ainda não há uma data para que a estrutura entre em funcionamento.





Patrícia de Souza opina que a violência doméstica só vai diminuir quando houver uma mudança cultural, programas de educacionais nas escolas voltados aos direitos humanos, enfatizando o respeito, combate à violência contra a mulher e mudança nos valores culturais. “A mulher tem ser valorizada como sujeito na relação, e não como um objeto”, finaliza.





Pesquisadora

Patrícia Alves de Souza é farmacêutica e autora de dissertação de mestrado sobre violência doméstica, em 2003. Presidiu a Casa de Mulher Catarina, em Florianópolis, órgão que atua no combate à violência contra a mulher.  Dentre seus trabalhos sobre a violência, apresentou duas oficinas no Fórum Social Mundial, e Porto Alegre, no ano de 2010.



O que fazer para reduzir a violência  doméstica? Leia as respostas dadas por pessoas nas ruas na galeria de imagens desta notícia




Fotos:Arquivo CL e Adecir Morais

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