São 48 anos sem uma reforma geral. O prédio da Escola de Educação Básica de Lages (antigo Colégio Industrial) possui problemas nas instalações elétricas, hidráulicas e infiltrações. Sinais da idade de um edifício que teve sua construção iniciada na década de 50 e que serve como abrigo para cerca de 1.600 pessoas que querem aprender e ensinar.
No prédio funcionam duas instituições de ensino: Cedup de Lages e E.E.B. de Lages. Apesar disso, todo mundo o chama de ‘Industrial’, como foi sua mais famosa designação. Existe um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa para que a razão social seja alterada para Escola de Educação Básica Colégio Industrial.
Nome à parte, a diretora do Cedup de Lages e professora do E.E.B. de Lages, Audelina Córdova Olivo, vê uma situação alarmante se desenrolando. Ex-aluna do local e docente desde 1977, ela não tem medo de dizer que o Industrial perdeu qualidade.Ela tem medo de que o prédio onde passou a maior parte da sua vida repita a história do Aristiliano Ramos e seja interditado. A professora mostra fotos de um poste, com uma parte que aparenta estar derretida.
Sinais de sobrecarga, explica Audelina. Isso porque, segundo ela, durante a noite, quando acontecem os cursos técnicos, se usa quase três vezes a quantidade de eletricidade que o prédio comporta. “O dia que acontecer um ‘curto-circuito-longo’ vai ser preciso chamar até os bombeiros de Vacaria”, diz em tom de brincadeira, mas consciente de que o assunto é muito sério.
A sobrecarga não é só de eletricidade. No ano passado estudavam 1334 alunos, número que subiu em 2012. De manhã não existem salas disponíveis e chegou a ser improvisada uma sala de vídeo no hall do auditório. De tarde existem poucas salas e à noite os cursos técnicos lotam o colégio. O que existe de ‘ocioso’ é porque não está em condições de uso.
O Cedup, por exemplo, possui um curso técnico de manutenção automotiva que começará “em breve”. Essa é a expressão que está no folder de divulgação dos cursos, mas que pode ser traduzida em ‘quando houver espaço disponível’. “Já está com a ementa aprovada, tem planos de aula, só falta lugar”, diz Audelina.
Colocar alunos de ensino básico e técnico no mesmo prédio também causa incômodo. No Cedup, alunos podem sair do prédio quando acharem necessário, o que é proibido para os da E.E.B. de Lages. Os laboratórios também são compartilhados, assim como todo o espaço comum do edifício. Apesar de juntarem esforços, as duas instituições enfrentam problemas quando o assunto é conseguir verbas.
Isso porque, se fosse somente a escola básica, seria mais fácil conseguir determinados tipos de verbas para o prédio. Dinheiro, aliás, não era problema até a metade dos anos 90, quando começou a ‘decadência’ do Industrial. Antes a escola tinha aporte financeiro dos alunos através de uma cooperativa e de uma fundação. Audelina esclarece que este tipo de política agora seria inviável, visto que é vetado qualquer tipo de cobrança para os alunos.
Quem já estudou lá, também poderia enfrentar problemas burocráticos mesmo para fazer doações. O Colégio Industrial de Lages, referência no estado, é um passado de glórias, que, na opinião de Audelina, necessita de mais comprometimento para que seja retomado.
Reforma é cara e complicada, mas desejada
A diretora do Cedup de Lages, Audelina Córdova Olivo, explica que foi quando o Industrial completou 40 anos que se notou a necessidade de uma reforma. Como noticiado no Correio Lageano na edição de 4 de maio de 2011, existem problemas que vão desde as calçadas, despedaçadas até o telhado remendado.
A condição ainda passa pela fiação, que já sofreu curto-circuito enquanto se consertava um vazamento. A promessa da reforma já veio algumas vezes, mas nada de efetivo. Audelina explica que “depois do Centro Educacional, era para o Industrial ser reformado”. Porém, uma reforma “cheia de gambiarras” colocou em xeque a obra no prédio do Industrial.
Não existe um levantamento de quanto custaria uma reforma. Mas é certo que seria mais caro que uma nova escola. Segundo informações da assessoria da Secretaria Regional de Desenvolvimento (SDR) de Lages, a construção de um prédio ‘padrão’ do governo estadual gira em torno de R$ 3,5 milhões. Extra-oficialmente, a reforma do Industrial, custaria R$ 5 milhões, o que Audelina diz ser pouco. “O Jurandi (Agostini, Secretário Regional) disse que esse valor não dá”, conta a professora.
O comprometimento da reforma existe. Segundo Audelina, a diretora-adjunta da Secretaria da Educação (SED), Elza Moretto, e Jurandi Agostini se esforçam para que a obra aconteça. A assessoria da SDR explica que a intenção existe e está na pauta da SED, mas é necessário fazer um levantamento de custos, depois um projeto para que se inicie o processo licitatório.
Audelina quer crer que o prédio seja reformado antes de sua aposentadoria (no fim do ano), mas sabe que existem muitos entraves. Além do valor, não se existe um plano de manejo com os alunos. Se eles continuariam no prédio durante a reforma ou não. Os estudantes do Cedup ainda enfrentam um agravante. A aparelhagem usada em laboratórios é grande e de difícil retirada, Audelina diz ser inviável sairem de lá.
Projeto de Oscar Niemeyer seria lenda urbana?
O então denominado Ginásio Industrial Vidal Ramos teve sua construção iniciada na década de 50 e foi inaugurado em 1964. Foi estadualizado e passou a se chamar Colégio Industrial de Lages, quando se tornou referência no ensino em Santa Catarina. O prédio, cheio de ângulos, formas e soluções, teria sido projetado pelo centenário arquiteto Oscar Niemeyer, que projetou a capital federal.
Porém, não existe documentação. No arquivo morto da prefeitura, não consta a planta do prédio. Informações da assessoria de imprensa da Secretaria Regional, atestam que a planta antiga não continha a assinatura de Niemeyer. Já a diretora do Cedup, Audelina Córdova Oliva conta que o projeto teria sido feito por um aluno do arquiteto, sob as orientações de Niemeyer, que assinou como responsável. “Ele disse que era para ser feito daquele jeito, orientou e aprovou, então foi ele né?”
Aristiliano Ramos sem definição
Interditado no fim de 2011, o prédio da Escola de Educação Básica Aritiliano Ramos, segue sem definição. Segundo a assessoria da Secretaria Regional de Desenvolvimento, a estimativa de investimento para a reforma seria de R$ 3,5 milhões, o suficiente para construir uma nova escola.
No momento estão sendo feitos estudos para que se defina a solução a ser tomada. Enquanto isso os cerca de 200 alunos matriculados na instituição estão divididos. Os que estudam no período noturno vão para o Centro Educacional Vidal Ramos Júnior, enquanto nos outros períodos a escola é a Melvin Jones. Os outros 1.100 alunos que estudavam na instituição estão matriculados em outras escolas.
Projeto para o Vidal Ramos em andamento
Com a intenção de ser transformado em um centro cultural, o centenário prédio rosa do Colégio Vidal Ramos, ainda espera pela reforma. Segundo a assessoria da Secretaria Regional de Desenvolvimento, o projeto está quase pronto. O prazo para a entrega é maio, e, até lá está sendo feito trabalho de escritório, ou seja, de ordem técnica. Será feito um levantamento dos custos para que se busquem parceiros que ajudem na realização do projeto.
Fotos: Thomas Michel
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