Lages, 26/02/2013, Correio Lageano, por Suzani Rovaris
A migração é dos pacientes de municípios menores a Lages e dos lageanos aos grandes centros para tratamento médico
Lages concentra o maior número de atendimentos de saúde na Serra Catarinense. A maioria deles é de média e alta complexidade, especialidades que não são oferecidas nos municípios pequenos, seja por falta de estrutura, médico ou financeira.
O Hospital Teresa Ramos é referência no atendimento a queimados e onde está também o Centro de Pesquisas Oncológicas, atende pacientes da região e também os que vêm até mesmo do Oeste de Santa Catarina para tratamentos de quimioterapia. Outra especialidade da instituição é o atendimento a soropositivos.
A cidade ainda conta com o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, referência em traumatologia; e o Hospital Infantil Seara do Bem, constituindo-se numa entidade beneficente e o único hospital infantil de Santa Catarina fora do litoral.
Diariamente, pelo menos 40 veículos se deslocam de outros municípios para Lages. No mínimo, mil pessoas são atendidas todos os dias. De acordo com a gerente Regional de Saúde, Beatriz Montemezzo, concentrar os atendimentos de saúde em Lages é questão de logística e esse sistema sempre funcionou desse jeito.
Outro motivo que justifica o baixo número de especialistas nos municípios do interior é a falta de estrutura relacionada às múltiplas opções dos profissionais, conforme explica Beatriz. Segundo ela, alguns preferem atender mais que um serviço. “Muitos deles procuram abranger diversos serviços, por exemplo, atender em uma unidade de saúde, em uma clínica e em um hospital. A maioria dos grandes centros oferece esse aparato, diferente do interior”. Beatriz acrescenta que na região somente Lages é o polo da saúde, diferente de outras regiões.
Na teoria, a rede de saúde deve funcionar somente para atendimentos de média e alta complexidade. “O procedimento funciona a partir das unidades básicas que devem ser as primeiras a serem visitadas. A partir daí, o município encaminha para o especialista em Lages”, afirma Beatriz. Na prática, alguns pacientes aproveitam para consultas com clínicos gerais que deveria ser realizadas no município de origem.
Karina dos Santos Küster Rosa de Liz
De Painel, a dona de casa, de 22 anos, sempre que precisa viaja até Lages para consultas ou exames, a maioria deles para especialidades como ortopedia, ginecologia e até dentistas. Desta vez precisou de tratamento com ortopedista para o pulso esquerdo que está machucado.
Ela conta que prefere os atendimentos no próprio município, mas também não se importa de viajar. “Sempre que venho, o veículo da prefeitura está cheio. É impressionante como tem muitas pessoas que precisam ser atendidas fora de suas cidades. Em Painel, só tem duas unidades básicas e não tem hospital. Para exames e, quando se precisa de um exame mais complexo o paciente precisa vir a Lages”.
Maria de Fátima Amaral
A aposentada Maria de Fátima Amaral, de 59 anos, conta que quando precisa viajar até Lages para cuidar da saúde vem um dia antes da consulta marcada e dorme na casa da sobrinha.
Ela conta que faz isso porque o carro da saúde sai de São José do Cerrito às 7 horas, mas Maria e o marido moram na localidade de Vargem Bonito. “Fica complicado para chegar na praça antes da Van sair.” Apesar de não apresentar problemas no coração, ela faz um acompanhamento com cardiologista a cada três ou cinco meses. Segundo ela, dois carros saem do município para trazer os pacientes, de manhã e à tarde, e sempre estão cheios.
Abertura de escolas de medicina não fixa profissionais
O estudo Demografia Médica no Brasil - Volume 2 demonstrou que não se confirma a expectativa de que as escolas médicas sejam polos em torno dos quais os médicos ali graduados exercerão a profissão. Após a conquista do diploma, os grandes centros são a opção preferencial para instalação dos médicos e exercem mais atração que as cidades onde eles se formaram ou nasceram.
Do universo pesquisado, 107.114 médicos se graduaram em local diferente daquele onde nasceu. Nesse grupo, 36,8% retornaram ao município de onde saíram. Ainda dentro do grupo de 107.114 médicos que se graduou em local diferente daquele onde nasceu, 25,3% ficaram na localidade onde se graduaram. Também nestes casos, são os centros urbanos que exercem atração sobre os egressos das escolas médicas.
“Pode ser um indicador de que a simples abertura de mais escolas e mais vagas não basta para reduzir as desigualdades regionais em locais de baixa concentração de médicos. Muitas das novas escolas provavelmente se transformaram em ´repúblicas de estudantes´, com a maioria de seus graduandos migrando em direção a outros centros, assim que se forma”, aponta o estudo.
De acordo com o CFM e Cremesp, o persistente fluxo de médicos em direção aos mesmos lugares pode agravar desigualdades e gerar consequências indesejadas ao sistema de saúde brasileiro, o que não se resolverá apenas com o aumento ou a interiorização da abertura de novas escola.
Estudo revela desigualdade
O número de médicos em Santa Catarina chegou a 12.497 em outubro de 2012, segundo revela o estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM). O levantamento destaca a desigualdade percebida entre a capital e os municípios do interior do Estado.
Os dados divulgados mostram que 5.889.608 cidadãos, moradores de municípios pequenos, são assistidos por 9.198 médicos. Neste conjunto de municípios, a razão médico/habitante fica em 1,56. Por outro lado, os residentes na capital têm um índice de 7,72 médicos por mil habitantes.
Com taxa de 1,98 profissional por mil habitantes, o Estado se posiciona abaixo da média nacional, ocupando o oitavo lugar em números absolutos de médicos registrados em todo o país (388.015) e o sétimo em termos proporcionais. Cerca de 26% destes profissionais se concentram na capital e somente 57,3% deles atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para os conselhos de Medicina, o Brasil é um país marcado pela desigualdade no que se refere à concentração de médicos. A população médica brasileira, apesar de apresentar uma curva constante de crescimento, permanece mal distribuída pelo território nacional.
Embora cerca de 48,66 milhões de brasileiros tenham acesso a planos de assistência médico-hospitalar, o SUS atende constitucionalmente toda a população, inclusive nas ações de promoção, vigilância, assistência farmacêutica, urgência, emergência e alta complexidade.
Consórcio de saúde
Um reforço para a saúde da população serrana é o Consórcio de Saúde, criado há 15 anos pela Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures). Presta serviços a 25 municípios. Além dos 18 da Serra, outros sete integram o rol de serviços que vão desde consultas médicas e exames especializados.
Para atender a demanda da macrorregião de cerca de 400 mil habitantes foram terceirizados 130 serviços de clínicas e hospitais. Só em consultas são 26 especialidades como fonoaudiologia, psicologia, acupuntura, psicopedagogia e fisioterapia. Além de exames como ultrassonografia, ressonância magnética e eletrocardiograma.
As consultas funcionam na sede do consórcio, em Lages. Por dia, recebe uma média de 800 a mil pessoas para consultas, exames e orientações. A exceção são as consultas de oftalmologia e cirurgia vascular, que dependem de equipamentos de alto custo.
A principal vantagem do sistema consorciado de saúde é a redução de custos dos serviços. Como os procedimentos são comprados em quantidade, o valor pago é no máximo 30% em relação à consulta particular, o que se traduz numa economia de pelo menos 70% do custo particular do procedimento.
Fotos: Suzani Rovaris
A migração é dos pacientes de municípios menores a Lages e dos lageanos aos grandes centros para tratamento médico
Lages concentra o maior número de atendimentos de saúde na Serra Catarinense. A maioria deles é de média e alta complexidade, especialidades que não são oferecidas nos municípios pequenos, seja por falta de estrutura, médico ou financeira.
O Hospital Teresa Ramos é referência no atendimento a queimados e onde está também o Centro de Pesquisas Oncológicas, atende pacientes da região e também os que vêm até mesmo do Oeste de Santa Catarina para tratamentos de quimioterapia. Outra especialidade da instituição é o atendimento a soropositivos.
A cidade ainda conta com o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, referência em traumatologia; e o Hospital Infantil Seara do Bem, constituindo-se numa entidade beneficente e o único hospital infantil de Santa Catarina fora do litoral.
Diariamente, pelo menos 40 veículos se deslocam de outros municípios para Lages. No mínimo, mil pessoas são atendidas todos os dias. De acordo com a gerente Regional de Saúde, Beatriz Montemezzo, concentrar os atendimentos de saúde em Lages é questão de logística e esse sistema sempre funcionou desse jeito.
Outro motivo que justifica o baixo número de especialistas nos municípios do interior é a falta de estrutura relacionada às múltiplas opções dos profissionais, conforme explica Beatriz. Segundo ela, alguns preferem atender mais que um serviço. “Muitos deles procuram abranger diversos serviços, por exemplo, atender em uma unidade de saúde, em uma clínica e em um hospital. A maioria dos grandes centros oferece esse aparato, diferente do interior”. Beatriz acrescenta que na região somente Lages é o polo da saúde, diferente de outras regiões.
Na teoria, a rede de saúde deve funcionar somente para atendimentos de média e alta complexidade. “O procedimento funciona a partir das unidades básicas que devem ser as primeiras a serem visitadas. A partir daí, o município encaminha para o especialista em Lages”, afirma Beatriz. Na prática, alguns pacientes aproveitam para consultas com clínicos gerais que deveria ser realizadas no município de origem.
Karina dos Santos Küster Rosa de Liz
De Painel, a dona de casa, de 22 anos, sempre que precisa viaja até Lages para consultas ou exames, a maioria deles para especialidades como ortopedia, ginecologia e até dentistas. Desta vez precisou de tratamento com ortopedista para o pulso esquerdo que está machucado.
Ela conta que prefere os atendimentos no próprio município, mas também não se importa de viajar. “Sempre que venho, o veículo da prefeitura está cheio. É impressionante como tem muitas pessoas que precisam ser atendidas fora de suas cidades. Em Painel, só tem duas unidades básicas e não tem hospital. Para exames e, quando se precisa de um exame mais complexo o paciente precisa vir a Lages”.
Maria de Fátima Amaral
A aposentada Maria de Fátima Amaral, de 59 anos, conta que quando precisa viajar até Lages para cuidar da saúde vem um dia antes da consulta marcada e dorme na casa da sobrinha.
Ela conta que faz isso porque o carro da saúde sai de São José do Cerrito às 7 horas, mas Maria e o marido moram na localidade de Vargem Bonito. “Fica complicado para chegar na praça antes da Van sair.” Apesar de não apresentar problemas no coração, ela faz um acompanhamento com cardiologista a cada três ou cinco meses. Segundo ela, dois carros saem do município para trazer os pacientes, de manhã e à tarde, e sempre estão cheios.
Abertura de escolas de medicina não fixa profissionais
O estudo Demografia Médica no Brasil - Volume 2 demonstrou que não se confirma a expectativa de que as escolas médicas sejam polos em torno dos quais os médicos ali graduados exercerão a profissão. Após a conquista do diploma, os grandes centros são a opção preferencial para instalação dos médicos e exercem mais atração que as cidades onde eles se formaram ou nasceram.
Do universo pesquisado, 107.114 médicos se graduaram em local diferente daquele onde nasceu. Nesse grupo, 36,8% retornaram ao município de onde saíram. Ainda dentro do grupo de 107.114 médicos que se graduou em local diferente daquele onde nasceu, 25,3% ficaram na localidade onde se graduaram. Também nestes casos, são os centros urbanos que exercem atração sobre os egressos das escolas médicas.
“Pode ser um indicador de que a simples abertura de mais escolas e mais vagas não basta para reduzir as desigualdades regionais em locais de baixa concentração de médicos. Muitas das novas escolas provavelmente se transformaram em ´repúblicas de estudantes´, com a maioria de seus graduandos migrando em direção a outros centros, assim que se forma”, aponta o estudo.
De acordo com o CFM e Cremesp, o persistente fluxo de médicos em direção aos mesmos lugares pode agravar desigualdades e gerar consequências indesejadas ao sistema de saúde brasileiro, o que não se resolverá apenas com o aumento ou a interiorização da abertura de novas escola.
Estudo revela desigualdade
O número de médicos em Santa Catarina chegou a 12.497 em outubro de 2012, segundo revela o estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM). O levantamento destaca a desigualdade percebida entre a capital e os municípios do interior do Estado.
Os dados divulgados mostram que 5.889.608 cidadãos, moradores de municípios pequenos, são assistidos por 9.198 médicos. Neste conjunto de municípios, a razão médico/habitante fica em 1,56. Por outro lado, os residentes na capital têm um índice de 7,72 médicos por mil habitantes.
Com taxa de 1,98 profissional por mil habitantes, o Estado se posiciona abaixo da média nacional, ocupando o oitavo lugar em números absolutos de médicos registrados em todo o país (388.015) e o sétimo em termos proporcionais. Cerca de 26% destes profissionais se concentram na capital e somente 57,3% deles atuam no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para os conselhos de Medicina, o Brasil é um país marcado pela desigualdade no que se refere à concentração de médicos. A população médica brasileira, apesar de apresentar uma curva constante de crescimento, permanece mal distribuída pelo território nacional.
Embora cerca de 48,66 milhões de brasileiros tenham acesso a planos de assistência médico-hospitalar, o SUS atende constitucionalmente toda a população, inclusive nas ações de promoção, vigilância, assistência farmacêutica, urgência, emergência e alta complexidade.
Consórcio de saúde
Um reforço para a saúde da população serrana é o Consórcio de Saúde, criado há 15 anos pela Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures). Presta serviços a 25 municípios. Além dos 18 da Serra, outros sete integram o rol de serviços que vão desde consultas médicas e exames especializados.
Para atender a demanda da macrorregião de cerca de 400 mil habitantes foram terceirizados 130 serviços de clínicas e hospitais. Só em consultas são 26 especialidades como fonoaudiologia, psicologia, acupuntura, psicopedagogia e fisioterapia. Além de exames como ultrassonografia, ressonância magnética e eletrocardiograma.
As consultas funcionam na sede do consórcio, em Lages. Por dia, recebe uma média de 800 a mil pessoas para consultas, exames e orientações. A exceção são as consultas de oftalmologia e cirurgia vascular, que dependem de equipamentos de alto custo.
A principal vantagem do sistema consorciado de saúde é a redução de custos dos serviços. Como os procedimentos são comprados em quantidade, o valor pago é no máximo 30% em relação à consulta particular, o que se traduz numa economia de pelo menos 70% do custo particular do procedimento.
Fotos: Suzani Rovaris
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