sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Raça crioula serrana surgiu com jesuítas


Serra Catarinense, 31/01/2014, Correio Lageano, por Susana Küster



A raça crioula lageana chegou antes do fundador de Lages, Correia Pinto. Os primeiros animais vieram em 1730, através dos jesuítas que largaram em torno de 80 mil reses nos campos da Serra. Eles escolheram a Serra por considerar de difícil acesso e propícia para a criação do gado.



Com o acordo de Madri, Portugal e Espanha se uniram para expulsar os jesuítas da América do Sul. Quem não morreu, fugiu. O gado ficou abandonado e se criou sozinho, tornando-se selvagem. Quando os portugueses aportaram no Brasil encontraram o gado selvagem e começaram capturá-lo para inserir nas fazendas.



O gado se criou no campo, se alimentando de folhas, arbustos e musgos, os criadores dizem que não é preciso investimentos em concentrados e alimentos, basta apenas o sal mineral se for criar o gado confinado. Como se criou sozinha, a raça ficou com uma forte estrutura óssea, devido aos campos ondulados onde viveram um bom tempo. Seu couro e pelagem mais curtos causam poucas lesões.



O médico veterinário e criador Edison Martins diz que é possível dizer que o gado crioulo foi a primeira economia da Serra Catarinense. A raça serrana é de corte, leite e também é usada para o trabalho. Nas pesquisas da Embrapa, foi descoberto que na época da exploração da madeira na região, a raça era usada como trator. “É um animal dócil que se dá bem no serviço, além de produzir carne e leite”, avalia o criador.



Animais ameaçados de extinção



Com o avanço da ciência no mundo, um grupo de pesquisadores ingleses, em 1790, começou fazer cruzamento de animais e raças novas surgiram. A raça de corte Shorthorn foi a primeira que surgiu, depois outros criadores fizeram surgir a Angus, Devon e várias outras raças.



Com este processo de cruzamento e os acordos internacionais, depois de 1900 as raças europeias começaram a se difundir pelo mundo. Com isso, a raça crioula lageana começou a ser substituída pelo gado europeu, a ponto de ser ameaçada de extinção, segundo o criador Edison Martins. “Ela fazia parte do programa da FAO (Food and Agriculture Organization), na área de conservação de recursos genéticos.



Gado não se perdeu graças a dois criadores



Alguns criadores, como Nelson de Araújo Camargo e seu primo Antonino Camargo, arrebanharam o gado perdido nos campos e não venderam seus rebanhos, e, mantiveram viva a espécie crioula na região. Com o auxílio da Embrapa e de outras instituições, os sêmens e células tronco foram conservados.



Em 2003, um grupo de criadores que se identificou com a raça se uniu e criou a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana (ABCCL).
Um planejamento institucional começou a ser feito junto com a exposição de animais. Hoje, a raça não existe só em Lages, mas em Correia Pinto, Ponte Alta, Painel, Fraiburgo, Videira, Correia Pinto, Caçador e Santa Cecília. Outros Estados do país, como São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais, também possuem.



Ele explica que não são muitos criadores da raça na região, porque os brasileiros têm uma tendência em valorizar o que vem de fora. “Os criadores viam seu vizinho comprar um gado europeu e não queriam ficar por menos e compravam também. Assim, o gado crioulo se criava no campo, ficando selvagem”, diz Martins.



Meta é vender carne nos mercados


A associação tem investido em pesquisa para a caracterização da carne. Assim ela poderá ser vendida nos supermercados. E, com isso, os criadores esperam que mais interessados queiram produzir a raça. “Precisamos de um produto homogêneo para poder estabelecer um valor e o cliente quando comer sentir somente um tipo de sabor com a carne”, explica o médico veterinário e pecuarista Edison Martins.



Ele diz que a raça é mantida pura, sem nenhum cruzamento com outro gado para manter a base genética e suas características. Para vender é preciso saber  os nutrientes da carne, o grau de suculência, maciez e marmoreio (acumulação de gordura intramuscular).



Em 2008, através de uma portaria a raça passou a ser oficial, o Ministério da Agricultura reconheceu o grupamento genético crioula lageana e sua variedade Mocha. Assim, cada animal da raça que nasce recebe um registro de nascimento com nome do pai, mãe e toda sua genealogia reconhecida.




Fotos: Susana Küster

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